Se beber café faz parte da sua rotina, provavelmente já reparou que o preço tem subido.

Questões climáticas que impactam a produção, constrangimentos na logística de transporte, questões regulamentares, procura crescente das Robustas e alguma especulação no mercado, tem ditado esta evolução.

O setor do café enfrenta um período desafiante sem precedentes, resultado do contínuo e galopante crescimento do preço do café verde, em particular a variedade Robusta, que atingem níveis históricos e escasseiam nos mercados. De acordo com a Organização Mundial do Café, o Café Robusta subiu 74% só no último ano (jul 23 a jul 24), mas a trajetória ascendente começou há 3 anos atrás.

Perceba melhor o que tem feito subir o preço do café:

Questões climáticas:

A produção de café verde exige condições muito especificas de altitude, temperatura, precipitação e humidade do ar, e como tal está muito exposta às alterações climáticas.

Fenómenos como Geadas, Chuvas e Secas (em particular as geradas pelo fenómeno El Niño), tem afetado grandemente as produções dos maiores produtores de café.

Em particular as chuvas e maus anos agrícolas tem afetado nos últimos anos a produção das Robustas no Vietnam (principal produtor desta variedade).

Questões regulamentares:

Dois grandes fatores têm condicionado a disponibilidade de café verde nos últimos 2 anos: a proibição de recertificação de café com mais de 2 anos para integração em Bolsa e a eminente proibição da UE de transacionar café produzido em zonas recentemente desflorestadas. Nos termos do novo regulamento da UE, qualquer operador ou comerciante que coloque produtos no mercado da UE, ou que exporte a partir dele, deve provar que os produtos não provêm de terras recentemente desflorestadas ou que contribuíram para a degradação das florestas. Isto implica excluir grande parte dos produtores de café atuais, que teriam de investir em sistemas de mapeamento digital das suas explorações, uma vez que a maior parte deles não tem essa capacidade. O resultado será naturalmente um cenário de escassez sem precedentes.

Questões logísticas e geopolíticas:

O estalar do conflito entre Israel e o grupo islamita Hamas no final de 2023 e subsequentes ataques dos Houthis aos navios de carga no Mar Vermelho, levou ao desvio de rotas, o que fez aumentar os timmings de entrega e os custos de transporte do café verde, nomeadamente das Robustas proveniente do Vietnam e Indonésia.

Procura:

O consumo mundial de café cresce a ritmo acelerado. A Europa é desde de 2021 o principal mercado consumidor de café, consumindo 24% da produção mundial, mas é nos países com menor tradição nesta bebida, como os asiáticos, que se regista um crescimento mais acentuado. Contudo a grande pressão sobre a principal variedade consumida em Portugal observada nos últimos meses, exerce-se por outra via. Os países do Norte da Europa, tipicamente consumidores de Arábica, perante o aumento de preços nesta variedade, começaram a introduzir a variedade Robusta (historicamente mais baratas), elevando o preço destas últimas no mercado.

Questões climáticas e regulamentares resultam em escassez num mercado onde a procura é cada vez maior. O desequilíbrio entre a oferta e procura gera naturalmente pressão sobre os preços, o que é agravado por custos de transporte mais elevados. A juntar a este movimento natural, alguma especulação no mercado, impede que os preços corrijam ou sequer estabilizem e não se perspetiva que isso possa acontecer num futuro próximo.

Perante este cenário é expectável que o mercado evolua na forma como consome café, e que as marcas transformem este num produto de maior valor.

Evoluiremos para blends de qualidade superior, mais sustentáveis e uma experiência sensorial superior e(m) situações de consumo cada vez menos funcionais.